Nossa antiga e pesada tradição de moral sexual repressiva (que combina infantilismo sexual e romantismo) morreu. Mas o cadáver é herdado como cultura moral ainda hoje e de vez em quando é apresentado como espantalho pelas antigas e novas religiões.
Apesar disto, do ponto de vista intelectual, a crítica da moral sexual tradicional é devastadora. Não sobra pedra sobre pedra. Para quem quiser seguir apenas uma linha da trilha...veja nos 130 anos que vai da publicação da teoria da família de Engels, passando pela visão de sexualidade de Freud e Kinsey, das críticas anti-repressivas de Reich ao feminismo, às rebeliões juvenis, a "revolução sexual" da década de 1960 e aos movimentos GLBT, aos atuais congressos mundiais de sexologia até, no Brasil, Roberto Freire, Gaiarsa e Regina Navarro Lins. Mesmo que o problema permaneça na cultura... como mortos insepultos, aqui queremos abrir uma nova proposta para o século XXI.
Para nós, solteiros e casados deixam de existir. Aquela antiga oposição entre ser livre com sexo casual versus ser comprometido com sexo empacotado e rotineiro desaparece.
Hoje a concepção de relação livre organiza a vida de tal forma que vivemos, a um só tempo, às relações afetivas estáveis, continentes, baseadas na densa amizade mas também, e simultaneamente, as relações organizadas pelo prazer mesmo da atividade sexual, sem outra decorrência. Nossa estrutura não é pelo casual ou pelo estável, mas por uma livre combinação de ambos, que ainda permite outras intermediárias.
Não estamos com Sílvio Santos: "é namoro ou é amizade?". Não queremos a esquizofrenia de "profundo ou casual". Do "amoroso ou prazeroso". Porque tudo isto nos interessa imensamente e ao mesmo tempo.
O sexo não deve ser restrito a relação afetiva ou que tenha que acabar nisto. As pessoas podem vivenciar as potencialidades da sexualidade sem estar ligada ao amor. Há um afeto específico da relação sexual imediata, que tem de ser exercitado de forma específica.
Não há razão para subordinar ou associar necessariamente a dimensão sexo-prazer à ordem estável das relações afetivas duradouras. O sexo-prazer permite uma intensidade de troca que o sexo-afeto não permite, já que a variedade de parceiros que ele oportuniza acelera trocas só possíveis nestas condições. Isto implica em mais aceleração de crescimento, de encontros.
O sexo-prazer deve libertar-se de uma estruturação sentimental muito pesada, ganhar vida, livre exercício. O amor não pode (por seus grandes méritos) sufocar esta específica possibilidade.
A negação de uma esfera simples de sexo-prazer deriva de uma restrição de vida, incapaz de ver a beleza do sexo quando sem continuidade e da incapacidade de superação dos traumas de separação. O que acaba gerando um sexo sob estrito controle afetivo. Uma afetivação obsessiva, negativa, restritiva, que só gera trocas sob controle. O sexo-prazer não pode estar na dependência do amor como seu legitimador. Isto gera mais sufoco que satisfação.
Também não há que se orgulhar do sexo não gravitado pelo afeto; o encontro dos corpos que não traz ao encontro o sentimento; o prazer do corpo que desautoriza o apego. Um ufanismo em torno do sexo sem sentimento não pode ser a sina de quem quer viver o sexo livremente. É óbvio que temos um arsenal inesgotável de doação amorosa, tão ou mais constante que o desejo sexual.
Queremos sexo livre e amor livre. Sexo múltiplo e amor múltiplo... pois nós somos ricos as pessoas são singulares! Pensamos que a vida sexual plenamente livre, absolutamente não conjugal, organizado sob as formas de relação livre, onde o sexo é múltiplo, diversificado, com pessoas livres e casais livres (sem amarras de enclausuramento), torna-se algo absolutamente simples... mas simples também podendo ser o apego, o afeto, a gratidão... o vínculo.
O grupo "Relações Livres - PoA" vive e organiza o debate sobre relações sem restrição monogâmica.
* Participa da organização do encontro anual "Diversidade Sexual - RS"
* Organiza o encontro semestral Universo Livre
* Organiza o festival semestral de curtas Universo Livre
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